domingo, 3 de junho de 2012

Empresa usa robô para explorar madeira submersa

A canadense Triton Logging quer atuar também em represas brasileiras.
Questão das florestas será discutida na Rio+20.

Dennis Barbosa Do G1, em São Paulo

Ficha Florestas Rio+20 (Foto: Editoria de Arte/G1)
Tucuruí, Balbina, Itaipu. O Brasil tem represas imensas que têm dentro delas um tesouro oculto, praticamente esquecido: esses lagos encobriram milhares de quilômetros quadrados de floresta, e boa parte da madeira segue ali, mesmo após décadas submersa.
Mas como pôr as mãos nessa matéria-prima? Uma empresa canadense desenvolveu um robô controlado à distância que desce até o fundo do lago, amarra bolsas infláveis nas árvores e corta seus troncos, fazendo com que flutuem.
Ele pode descer a até 100 metros de profundidade e retira até 50 árvores a cada mergulho.
“Conseguiríamos retirar mais de 150 mil metros cúbicos de madeira por ano de cada um dos grandes lagos brasileiros”, calcula Alexandre Lima, diretor-presidente da Triton Logging no Brasil.
O volume, que de outra forma poderia ser retirado de alguma floresta fora d'água, equivale a, aproximadamente, 7.500 caminhões carregados.
De olho nas grandes represas do Brasil, a Triton Logging já tem um escritório no país, mas ainda não conseguiu nenhuma autorização de exploração.
No caso de lagos administrados por empresas públicas, teria de passar por licitação. Segundo Lima, um levantamento internacional estimou que existem 300 milhões de árvores submersas. A empresa explora a madeira da maior represa em superfície de água no mundo, o Lago Volta, em Gana.
Robô corta  (Foto: Divulgação)Ilustração mostra como o robô, controlado a partir de uma balsa na superfície, prende um flutuador inflável no tronco da árvore e corte seu tronco, fazendo-a flutuar. (Foto: Divulgação)
Fora d'águaMas para o consultor de sustentabilidade e ex-diretor do Serviço Florestal Brasileiro, Tasso Azevedo, a madeira submersa, sendo um recurso limitado, não representa realmente uma alternativa para proteger as florestas. “Nesse sentido, seria mais uma curiosidade”, avalia.
A exploração das matas nativas segue sendo um problema ao redor do globo – e é um dos temas da Rio+20, a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontece em junho no Rio de Janeiro.
Relatório da ONU sobre o estado das florestas no mundo aponta que, entre 2000 e 2010, o mundo perdeu 52 mil km² de cobertura florestal – e cerca de metade dessa área foi desmatada no Brasil.
NegociaçãoPara Azevedo, o documento formulado até agora pelos negociadores da Rio+20 está ainda pouco ambicioso no quesito florestas. “Acho acanhado no sentido de apontar um caminho. A gente deveria desejar algo muito mais forte.”
O rascunho em negociação menciona que até 2030 a perda de cobertura florestal do planeta deve ser reduzida pela metade, aponta Azevedo. Mas ele acredita que a meta poderia ser estancar totalmente a destruição.
A questão territorial, no entanto, acaba dificultando. ”É superimportante, mas tem alguns limitantes. É diferente de outros temas, como biodiversidade, clima, oceanos, que são universais. Não existe, por exemplo, uma água que pertença a um país. Não existe fronteira para biodiversidade. A mesma coisa acontece com o clima. Mas a floresta tem uma fronteira. Toda vez que falamos de floresta, entramos numa questão de soberania”, explica.
Por isso, a interferência da comunidade internacional acaba ficando restrita. A saída são incentivos internacionais à conservação. Falta também uma equivalência econômica aos serviços ambientais prestados pelas florestas, como a formação de chuvas.
“O mercado global de produtos florestais é alguma coisa em torno de US$ 1 trilhão. É uma pancada”, lembra Azevedo.

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