quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Argentina: Antropólogos identificaram corpos de 63 desaparecidos

Durante o ano de 2012 a Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), indentificou 63 corpos de pessoas desaparecidas, que foram descobertos em tempos e lugares diferentes, em valas comuns ou nos terrenos dos quase 500 centros clandestinos de detenção que funcionaram durante a última ditadura militar (1976-1983). Outros restos apareceram enterrados em cemitérios como NN (desconhecidos).

Por Stella Calloni, no La Jornada


Arqueologia forense A equipe Argentina de Antropologia Forense realiza a exumação de uma vala comum em San Vicente, Córdoba, Argentina.
É muito árduo o trabalho dos antropólogos forenses, que inclui escavações, investigação de documentos e de campo e análises genéticas. Ainda falta a apresentação de milhares de famílias de desaparecidos para deixar suas mostras de sangue, em alguns casos porque são de lugares longínquos ou porque segue semeado o terror nas localidades menores ou ainda devido ao fato de não existir familiares próximos.

Vietnã

Nesta terça-feira (22), do Vietnã, a presidenta Cristina Fernández de Kirchner fez um reconhecimento especial à equipe de antropologia forense. Alguns integrantes da equipe estão trabalhando neste país, para identificar as vítimas da guerra com os Estados Unidos.

A mandatária destacou que o presidente do Vietnã, Truong Tan Sang, reconheceu a importância da colaboração da EAAF no trabalho para identificar, mediante amostras de DNA, cerca de 500 mil vítimas da guerra que ainda não são conhecidas.

Salto tecnológico

Em entrevista ao Pagina/12, Carlos Somigliana, integrante da EAAF, analisou o importante salto que implicara, as técnicas de reconhecimento por comparação do DNA e os limites que são fixados por ter mostras apenas de familiares da metade das pessoas desaparecidas.

Esta é uma trágica tarefa para muito tempo e estas últimas identificações correspondem a centros clandestinos de um raio determinado que não utilizavam os transportes em aviões para jogar as vítimas ao mar, previamente adormecidas por uma droga.

Antes de 2008, o número de pessoas identificadas era de 10 a 20. Agora, com as novas tecnologias, espera-se identificar entre 80 e 100 a cada ano.

Pistas


A descoberta dos restos em distintas circunstâncias, por exemplo em tambores com cadáveres cobertos por cimento, como os encontrados nos anos 1970 no canal de San Fernando, próximo a Buenos Aires, dão conta das forças utilizadas para se desfazer das vítimas, as quais até agora mostraram os terríveis rastros das torturas de que foram vítimas.

Uma das trágicas novidades para Somigliana é o surgimento de novos barris que apareceram em junho do ano passado em São Fernando, casos que lembraram o ocorrido tantos anos atrás quando pessoas foram colocadas em tambores de 200 litros e cimentadas. Eram vítimas do centro clandestino de Automotores Orletti, uma das sedes da Operação Condor encontrados pela Prefeitura e sepultados no final dos anos 1980 e princípios de 1990. Entre eles estava Marcelo Gelman, filho do poeta Juan Gelman. Eram oito pessoas, e no ano passada devido à mostra de sangue deixada pela filha do uruguaio Alberto Mechoso Méndez, sequestrado e levado a Orletti, pode-se identificar recentemente seu cadáver como a sétima vítima dos oito encontrados.

O emblemático caso Galañena


Em junho do ano passado também em São Fernando foram encontrados os restos do diplomata Crescencio Nicomedes Galañena Hernández, desaparecido em 9 de agosto de 1976 e identificado pela EAAF em agosto.

O descobrimento destes restos é considerado como uma das identificações de vítimas da última ditadura civil-militar argentina mais importantes do ano passado.

Galañena Hernández foi sequestrado junto com Jesús Cejas Arias no bairro de Belgrano, quando saíam da embaixada cubana, onde trabalhavam. Em setembro do ano passado foram identificados também os restos de María Rosa Clementi, uma empregada da mesma embaixada, sequestrada pelos ditadores.

Em Avellaneda, provincia de Buenos Aires, foi encontrada uma das maiores valas clandestinas, mas mais da metade das pessoas não puderam ser identificadas pela falta de mostras de DNA. Neste momento, em Santiago del Estero, provincia do noroeste, o EAAF está analisando um corpo NN encontrado na zona de Copo, que de acordo com a denúncia de vizinhos, foi jogado de um avião durante a ditadura. A lista é muito extensa e dolorosa.

No ex-Arsenal Miguel de Azcuénaga, um dos maiores centros clandestinos de detenção de Tucumán se encontraram vários restos, alguns já identificados como os do ex-senador tucumano Damián Márquez, que presidiu a Câmara de Senadores, sequestrado em janeiro de 1977. A interminável lista segue. Já não são fantasmas que nos despertam a noite. É uma grande dor saber o que passaram, mas ao menos sabemos onde estão agora, quando para nós deixaram de andar a noite e na névoa dos desaparecidos, dizem os familiares, que agora esperam justiça.

Fonte: La Jornada
Tradução: da Redação do Vermelho

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